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Da esquerda à direita: Ani Ngawang Samten, Dalai Lama e Lama Zopa Rinpoche
Budismo e a Declaração de Cambridge sobre a Senciência Animal
29 de fevereiro de 2016 às 22:00
Artigo: Buddha Weekly (Tradução: Dhamirah Hashim/ANDA – Agência de Notícias de Direitos Animais
Um grupo internacional de neurocientistas cognitivos e outros especialistas de destaque fizeram uma declaração forte, endossada por Stephen Hawking, afirmando que todos os “animais não-humanos… incluindo polvos” são sencientes e sentem emoções como medo e felicidade. Na Argentina, um orangotango ganhou direitos não-humanos contra seu tratador do zoológico. Recentemente, nos jornais, um macaco ganhou os direitos de uma foto selfie sobre o proprietário da câmera.
O avanço em direitos não-humanos suscita a questão, do ponto de vista budista, quando temos a promessa de libertar todos os seres sencientes – ou não matar – quem é que incluímos? Se a nossa definição inclui todos os seres até insetos e polvos, como podemos reconciliar nossa dependência em seres “inferiores” para a sobrevivência?
Cada vez mais, professores estão falando sobre a senciência não-humana e o sofrimento desnecessário para esses seres. Quando o Dalai Lama famosamente protestou “crueldade com galinhas” em 2012, foi inspirado por uma abundância de compaixão (ver “Dalai Lama e galinhas” abaixo). Como a “Declaração de Cambridge” de um grupo internacional de cientistas proeminentes, informando que até mesmo polvos sentem emoções, muda o nosso ponto de vista? Mais importantemente, o que diz o nosso professor? Para ajudar a fornecer introspecção, coletamos os ensinamentos de Buda, o Dalai Lama, Bikkhu Bodhi, Thich Nhat Hanh, Zasep Tulku Rinpoche, Karma Lekshe Tsomo, Lama Zopa Rinpoche, Kyabje Chatral Sangye Rinpoche, Geshe Thubten Soepa, e, é claro, Stephen Hawking e os cientistas de Cambridge.
Buddha: Primeiro Preceito “Abster-se de tirar a vida”
Budistas Mahayana, que prometem “liberar todos os seres sencientes” são muitas vezes vegetarianos por compaixão pelo sofrimento dos seres não-humanos – para cumprir o voto Bodhisattva e o primeiro preceito do Buda de não matar. Para outros, é muitas vezes conveniente evitar o assunto, uma vez que somos frequentemente culturalmente educados para aceitar a matança necessária de animais para a sobrevivência.
O Primeiro preceito de Buda em Pali lê: “Panatipata veramani sikkhapadam samadiyami” que se traduz mais ou menos como: “Eu me encarrego do preceito de abster-se de tirar a vida” Para muitos, isto significava a vida humana. Para outros, particularmente zen budistas, isso significava qualquer criatura que respirasse.
Declaração de Cambridge: “Humanos não são únicos em possuir … consciência.”
“Evidência convergente indica que os animais não-humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos, e neurofisiológicos de estados conscientes, juntamente com a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso da evidência indica que os humanos não são únicos em possuir os substratos neurológicos que geram consciência. Animais não-humanos, incluindo todos os mamíferos e pássaros, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem estes substratos neurológicos. “- A Declaração de Cambridge sobre Consciência
Os cientistas demonstraram que as emoções e tomadas de decisões se desenvolvem em todas as formas de vida, até moluscos cefalópodes. Até mesmo Steven Hawking e outros gigantes endossaram a declaração, intitulada “A Declaração de Cambridge sobre Consciência.” Emitida por um grupo proeminente de neurofisiologistas, neuroanatomistas, neurocientistas cognitivos, neurofarmacologistas e neurocientistas computacionais – essa afirmação deixa pouco espaço para diminuir os níveis de compaixão por formas de vida “inferiores”.
Na esteira desta declaração, um orangotango em um zoológico argentino venceu direitos de personalidade jurídica em uma luta para determinar se ele havia sido ilegalmente privado de sua liberdade. Além disso, o crédito para a “selfie” mencionada está sob revisão legal para determinar se o macaco ou o proprietário da câmera merecia o crédito.
Em outra notícia relacionada, o professor Marc Bekoff escreveu na Psychology Today: “Sabemos, por exemplo, que os camundongos, ratos e galinhas exibem empatia …” O que nos leva à galinhas e o Dalai Lama.
A carta de “Crueldade com Galinhas” de Dalai Lama
Em 2012, o Buddha Weekly relatou a carta de protesto do Dalai Lama, na qual ele escreveu ao KFC: “Eu tenho estado particularmente preocupado com o sofrimento de galinhas por muitos anos.” Na época o KFC matava 850 milhões de frangos por ano (a partir de 2010 ). O Dalai Lama escreveu ao KFC, pedindo-lhes para abandonar seu plano de abrir restaurantes no Tibet “por cause do suporte da sua corporação para a crueldade e o assassinato em massa”. [1]
Na época, a PETA proclamou que galinhas “sentem dor e têm personalidades distintas e inteligência”, o que foi amplamente zombado publicamente. Esta constatação posterior dos cientistas da Universidade de Cambridge parece apoiar ambos a PETA e as razões para o protesto do Dalai Lama.
Na época, a PETA proclamou que galinhas “sentem dor e têm personalidades distintas e inteligência”, o que foi amplamente zombado publicamente. Esta constatação posterior dos cientistas da Universidade de Cambridge parece apoiar ambos a PETA e as razões para o protesto do Dalai Lama.
Matar é proibido no Budismo – claramente um dos principais preceitos – mas isso é muitas vezes simplesmente interpretado como significando a morte “humana” – na base de que animais inferiores não são sencientes. Mesmo se matar “animais inferiores” for necessário para a sobrevivência, a doutrina da Metta proíbe budistas de causar sofrimento.
O Dalai Lama explicou como ele se tornou um vegetariano depois de testemunhar a morte de uma galinha. “Foi a morte de uma galinha que finalmente fortaleceu minha determinação para me tornar vegetariano. Em 1965, eu estava hospedado no Government Guest House no sul da Índia. Meu quarto observava diretamente a cozinha. Um dia eu por acaso vi o abate de um frango, o que me fez decidir me tornar um vegetariano. ”
Ele também explicou por que ele particularmente focava em galinhas. “Os tibetanos não são, em regra, vegetarianos, porque no Tibete os vegetais são escassos e a carne forma uma grande parte da dieta básica. No entanto, considera-se mais ético comer a carne dos animais maiores, como yaks, do que os pequenos, porque menos animais teriam de ser mortos.”
Até mesmo Buda não era um vegetariano estrito. Ele comia o que seus patrocinadores forneciam em seu prato, incluindo a carne. Foi, segundo a tradição, carne contaminada que o levou à sua morte e paranirvana.
Até mesmo Buda não era um vegetariano estrito. Ele comia o que seus patrocinadores forneciam em seu prato, incluindo a carne. Foi, segundo a tradição, carne contaminada que o levou à sua morte e paranirvana.
Bhikkhu Bodhi: Ser Senciente – “Qualquer Ser com Respiração”
Theravadan Pali Canon tende a apoiar a noção de toda vida como senciente. O conhecido professor Bikkhu Bodhi explica “pana” (do Primeiro Preceito em Pali ‘”pana” significa “respirar, ou qualquer ser vivo que tem respiração e consciência”.) O professor Venerável explica que isso inclui toda a vida animal, incluindo insetos, mas não a flora. A palavra “anipata” significa “golpear, e inclui tanto matar e ferir ou torturar. Claramente, é fundamental evitar tirar a vida de “qualquer ser com a respiração.”
Um elemento-chave na motivação. Acidentalmente pisar em um inseto ou atropelar um animal na estrada geralmente não entraria em conflito com o Primeiro Preceito.
Um elemento-chave na motivação. Acidentalmente pisar em um inseto ou atropelar um animal na estrada geralmente não entraria em conflito com o Primeiro Preceito.
Zasep Tulku Rinpoche: “Nós não devemos ferir outras pessoas e animais.”
Venerável Zasep Rinpoche, diretor espiritual de Gaden para o Ocidente, enfatiza o “modo de vida correto” para seus alunos. Ele é inequívoco em seu conselho sobre o peso igual de importância entre os seres humanos e não-humanos. Rinpoche escreveu em suas orientações: “O meio de vida correto é um dos aspectos do nobre caminho óctuplo; é um importante princípio budista que nós, como praticantes do Dharma, pratiquemos o modo de vida correto. Não devemos machucar outras pessoas e animais, e devemos fazer o melhor uso dos recursos da terra, de maneiras que não causem dano social e ambiental.”
Karma Lekshe Tsomo: “Examinar … Motivação”
Karma Tsomo, professora de teologia e uma freira tibetana disse: “Ao fazer escolhas morais, os indivíduos são aconselhados a examinar a sua motivação – aversão, apego, ignorância, sabedoria ou compaixão – e pesar as conseqüências de suas ações à luz dos ensinamentos de Buda.”
O mesmo critério seria importante em questões de “auto-defesa” incluindo a defesa de um país em tempo de guerra. De acordo com Barbara O’Brien, “cerca de 3.000 budistas” servem “nas forças armadas dos EUA, incluindo alguns capelães budistas. O Budismo não exige pacifismo.” Mais uma vez, porém, a motivação é a chave, neste caso, a “motivação” do país patrocinando o soldado. A ação que levou à morte é devida à motivação negativa do país, tais como a ganância, apego, ódio ou ignorância?
O mesmo critério seria importante em questões de “auto-defesa” incluindo a defesa de um país em tempo de guerra. De acordo com Barbara O’Brien, “cerca de 3.000 budistas” servem “nas forças armadas dos EUA, incluindo alguns capelães budistas. O Budismo não exige pacifismo.” Mais uma vez, porém, a motivação é a chave, neste caso, a “motivação” do país patrocinando o soldado. A ação que levou à morte é devida à motivação negativa do país, tais como a ganância, apego, ódio ou ignorância?
Thich Nhat Hanh: “Nenhuma morte pode ser justificada”
O famoso monge Zen e pacifista, que uma vez foi nomeado para o Prêmio Nobel da Paz é inequívoco em sua visão do primeiro preceito contra a matança: “Não podemos apoiar qualquer ato de matança; nenhuma pode ser justificada. Mas não matar não é suficiente. Devemos também aprender maneiras de impedir outros de matar. Não podemos dizer: “Eu não sou responsável. Eles fizeram isso. Minhas mãos estão limpas.” Se você estivesse na Alemanha durante a época do nazismo, você não podia dizer: “Eles fizeram isso. Eu não fiz.” Se, durante a Guerra do Golfo, você não disse ou fez qualquer coisa para tentar parar a matança, você não estava praticando esse preceito. Mesmo se o que você disse ou fez não conseguiu parar a guerra, o importante é que você tentou, usando a sua percepção e compaixão.”
O venerável professor não só era um ativista pacifista bem conhecido, ele também era vegetariano. “Mesmo que tenhamos orgulho em ser vegetariano, por exemplo, temos de reconhecer que a água em que fervemos nossos vegetais contém muitos microrganismos minúsculos. Nós não podemos ser completamente não-violentos, mas por sermos vegetarianos, estamos indo na direção da não-violência. Se queremos dirigir para o norte, podemos usar a Estrela do Norte para nos guiar, mas é impossível chegar à Estrela do Norte. Nosso esforço é somente para prosseguir nessa direção.”
O venerável professor não só era um ativista pacifista bem conhecido, ele também era vegetariano. “Mesmo que tenhamos orgulho em ser vegetariano, por exemplo, temos de reconhecer que a água em que fervemos nossos vegetais contém muitos microrganismos minúsculos. Nós não podemos ser completamente não-violentos, mas por sermos vegetarianos, estamos indo na direção da não-violência. Se queremos dirigir para o norte, podemos usar a Estrela do Norte para nos guiar, mas é impossível chegar à Estrela do Norte. Nosso esforço é somente para prosseguir nessa direção.”
Lama Zopa Rinpoche: “Os animais experimentam sofrimento inacreditável”
O mais venerável professor Vajrayana, Lama Zopa Rinpoche respondeu a um aluno sobre o tema do vegetarianismo: “Como há cada vez mais pessoas tornando-se vegetarianas, isso significa que cada vez menos animais serão mortos. Então é muito importante. No mundo as pessoas comem carne principalmente por causa do hábito; tantas pessoas não têm pensado que os animais experimentam sofrimento inacreditável.”
Mais tarde, ele descreveu como viu uma vaca lutando para não descer uma rampa para a morte: “Um homem estava puxando-a da plataforma, mas a vaca não queria descer. Então eu pensei, eu não posso parar o sofrimento do animal, mas o que posso fazer enquanto vou ao redor do mundo para ensinar, mesmo que seja em sutra e tantra, vou anunciar ou pedir se as pessoas podem tornar-se vegetarianas. Isso é algo que eu posso fazer.”
Mais tarde, ele descreveu como viu uma vaca lutando para não descer uma rampa para a morte: “Um homem estava puxando-a da plataforma, mas a vaca não queria descer. Então eu pensei, eu não posso parar o sofrimento do animal, mas o que posso fazer enquanto vou ao redor do mundo para ensinar, mesmo que seja em sutra e tantra, vou anunciar ou pedir se as pessoas podem tornar-se vegetarianas. Isso é algo que eu posso fazer.”
Voto Bodhisattva: “Liberar todos os seres sencientes”
No Budismo Mahayana, muitas vezes, a definição de “seres sencientes” é qualquer ser que é capaz de experimentar Dukkha (sofrimento). De acordo com os cientistas de Cambridge, estes são todos os seres até e incluindo polvos.
No sutra, os seres sencientes são descritos como todos os habitantes dos três reinos do samsara dentro das seis classes de seres. Incluído nas seis classes são animais, peixes, insetos – qualquer criatura com mente. Particularmente no que diz respeito à doutrina Tathagatagarbha, todas essas criaturas têm Natureza de Buda inerente, “o potencial intrínseco de transcender as condições de Samsara e atingir a Iluminação.”
Kyabje Chatral Sangye Dorje Rinpoche: “Carne, a comida pecaminosa.”
O grande Kyabje Chatral Rinpoche Rinpoche, um yogi Dzogchen altamente realizado, era um oponente vocal da carne por toda a sua longa vida, de 1913-2015. “Se você come carne, vai contra os votos que se faz em buscar refúgio no Buddha Dharma e Sangha. Porque quando você consome a carne que você tem que consumir a vida de um ser. ”
No capítulo 2 de “ação compassiva”, ele escreveu: “carne, a comida pecaminosa, não é permitida de acordo com os três votos: Os votos de liberação individual, o os votos Bodhisattva e os votos tântricos”
Por outro lado, muitas budistas não são vegetarianos. Buda mesmo ensinou monges a comerem tudo o que era colocado em sua tigela, incluindo a carne, a menos que eles sabiam que o animal havia sido morto para os monges.
Buda ensinou a bondade amorosa – mas não apenas para seres humanos?
Sem dúvida, praticantes budistas praticam a compaixão e bondade – metta – para os seres sencientes. A doutrina da “Karuna” ou “simpatia ativa” e boa vontade “para suportar a dor dos outros” não é discutível – pelo menos não nas escolas Mahayana. Mesmo se nós interpretamos “compaixão” como um método hábil usado pelo Buda para demonstrar a ideia equivocada do “eu independente” e “você independente” – não pode haver dúvida de que a bondade para os seres sencientes não é opcional.
Não há dúvida de que o Buda ensinou a benevolência para com todos os seres sencientes, não apenas seres humanos. Por que isso é fundamental? Porque Buda também ensinou a doutrina do renascimento – que podemos renascer como insetos, animais inferiores, e outras formas de vida. Compaixão por todos os seres, até insetos rastejantes, não está implícito, parece ser explicitamente recomendado. Isso não significa que os budistas devem ser vegetarianos, mas pelo menos que nós devemos sentir simpatia pelo sofrimento de todas as criaturas.
Geshe Thubten Soepa: “A carne não é permitida”
Em uma série de perguntas e respostas sobre o vegetarianismo com Geshe Thubten Soepa, um professor FPMT-registrado, ele responde: “Nos ensinamentos de Mahayana Buda proibe de comer carne por completo. Em muitos sutras diferentes (o Lankavatara Sutra, o Grande Sutra do Nirvana no Angulimala Sutra, o Sutra sobre a capacidade do elefante, o Sutra da Grande Nuvem), é ensinado que, se alguém está tentando viver com grande compaixão, então comer carne não é permitido. Isso ocorre porque temos que ver todos os seres sencientes como nossa mãe, irmão, filho, etc. Também no Angulimala Sutra, Manjushri perguntou ao Buda, “Por que você não come carne?” . Ele respondeu que ele viu todos os seres como tendo natureza búdica e que essa era a sua razão para não comer carne. Portanto, se você pratica Mahayana e come carne, é uma contradição.”
A Declaração de Cambridge sobre a Consciência
No dia 7 de julho de 2012, um proeminente grupo internacional de neurocientistas, neurofarmacologistas, neurofisiologistas, neuroanatomistas e neurocientistas computacionais cognitivos reuniu-se na Universidade de Cambridge para reavaliar os substratos neurobiológicos da experiência consciente e comportamentos relacionados em animais humanos e não humanos.
Embora a pesquisa comparativa sobre esse tópico seja naturalmente dificultada pela inabilidade dos animais não humanos, e muitas vezes humanos, de comunicar clara e prontamente os seus estados internos, as seguintes observações podem ser afirmadas inequivocamente:
– O campo da pesquisa sobre a consciência está evoluindo rapidamente. Inúmeras novas técnicas e estratégias para a pesquisa com animais humanos e não humanos tem se desenvolvido. Consequentemente, mais dados estão se tornando disponíveis, e isso pede uma reavaliação periódica dos preconceitos previamente sustentados nesse campo. Estudos com animais não humanos mostraram que circuitos cerebrais homólogos, correlacionados com a experiência e à percepção conscientes, podem ser seletivamente facilitados e interrompidos para avaliar se eles são necessários, de fato, para essas experiências. Além disso, em humanos, novas técnicas não invasivas estão prontamente disponíveis para examinar os correlatos da consciência.
– Os substratos neurais das emoções não parecem estar confinados às estruturas corticais. De fato, redes neurais subcorticais estimuladas durante estados afetivos em humanos também são criticamente importantes para gerar comportamentos emocionais em animais. A estimulação artificial das mesmas regiões cerebrais gera comportamentos e estados emocionais correspondentes tanto em animais humanos quanto não humanos. Onde quer que se evoque, no cérebro, comportamentos emocionais instintivos em animais não humanos, muitos dos comportamentos subsequentes são consistentes com estados emocionais conhecidos, incluindo aqueles estados internos que são recompensadores e punitivos. A estimulação cerebral profunda desses sistemas em humanos também pode gerar estados afetivos semelhantes. Sistemas associados ao afeto concentram-se em regiões subcorticais, onde abundam homologias neurais. Animais humanos e não humanos jovens sem neocórtices retêm essas funções mentais-cerebrais. Além disso, circuitos neurais que suportam estados comportamental-eletrofisiológicos de atenção, sono e tomada de decisão parecem ter surgido evolutivamente ainda na radiação dos invertebrados, sendo evidentes em insetos e em moluscos cefalópodes (por exemplo, polvos).
– As aves parecem apresentar, em seu comportamento, em sua neurofisiologia e em sua neuroanatomia, um caso notável de evolução paralela da consciência. Evidências de níveis de consciência quase humanos têm sido demonstradas mais marcadamente em papagaios-cinzentos africanos. As redes emocionais e os microcircuitos cognitivos de mamíferos e aves parecem ser muito mais homólogos do que se pensava anteriormente. Além disso, descobriu-se que certas espécies de pássaros exibem padrões neurais de sono semelhantes aos dos mamíferos, incluindo o sono REM e, como foi demonstrado em pássaros mandarins, padrões neurofisiológicos, que se pensava anteriormente que requeriam um neocórtex mamífero. Os pássaros pega-rabuda [1] em particular demonstraram exibir semelhanças notáveis com os humanos, com grandes símios, com golfinhos e com elefantes em estudos de autorreconhecimento no espelho.
– Em humanos, o efeito de certos alucinógenos parece estar associado a uma ruptura nos processos de feedforward efeedback corticais. Intervenções farmacológicas em animais não humanos com componentes que sabidamente afetam o comportamento consciente em humanos podem levar a perturbações semelhantes no comportamento de animais não humanos. Em humanos, há evidências para sugerir que a percepção está correlacionada com a atividade cortical, o que não exclui possíveis contribuições de processos subcorticais, como na percepção visual. Evidências de que as sensações emocionais de animais humanos e não humanos surgem a partir de redes cerebrais subcorticais homólogas fornecem provas convincentes para uma qualia [2] afetiva primitiva evolutivamente compartilhada.
Nós declaramos o seguinte: “A ausência de um neocórtex não parece impedir que um organismo experimente estados afetivos. Evidências convergentes indicam que animais não humanos têm os substratos neuroanatômicos, neuroquímicos e neurofisiológicos de estados de consciência juntamente como a capacidade de exibir comportamentos intencionais. Consequentemente, o peso das evidências indica que os humanos não são os únicos a possuir os substratos neurológicos que geram a consciência. Animais não humanos, incluindo todos os mamíferos e as aves, e muitas outras criaturas, incluindo polvos, também possuem esses substratos neurológicos”.
Fonte:http://www.anda.jor.br/29/02/2016/budismo-declaracao-cambridge-senciencia-animal
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