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Crianças vegetarianas: em alta no país, hábito levanta debates entre pais e médicos
— Eu não como porque não gosto que maltratem os animais. Meus pais consomem carne, a escolha é deles. No começo, eles pediam para eu comer também, mas, quando entenderam por que eu não queria, pararam de pedir — conta o garoto.
A mãe, a enfermeira Fernanda Portela, diz que a decisão do filho já preocupou muito pelo temor da falta de vitaminas e, por isso, criou o hábito de levar o menino para exames regulares de sangue. Ao longo dos anos a única alteração foi a queda nos níveis de vitamina B12, um composto com papel no sistema nervoso central, presente em abundância nas carnes. Gabriel passou então a tomar suplementos de reposição.
Casos de crianças vegetarianas têm se mostrado cada vez mais comuns nos consultórios de pediatras e nutricionistas. Ainda não há números oficiais que comprovem a tendência, mas é a percepção nítida dos especialistas.
— Temos visto um aumento em nosso dia a dia clínico. Isso tem sido causado principalmente pela troca de informação entre eles que é muito forte — afirma Mauro Fisberg, coordenador do Centro de Excelência em Nutrição e Dificuldades Alimentares do Instituto Pensi, ligado ao Hospital Sabará, em São Paulo.
O fenômeno é global. Nos Estados Unidos, estima-se que uma em cada 200 crianças sejam vegetarianas, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças, o CDC. Em Israel, a taxa chega a 20% entre esse grupo.
Início precoce
De acordo com Fisberg, a faixa etária mais comum para o início do vegetarianismo é a partir dos oito anos, mas pode começar bem antes, como no caso de Gabriel. As razões para uma criança ou adolescente se recusar a comer carne são variadas: sustentabilidade, por exemplo dos pais, crenças religiosas, sustentabilidade e, a mais comum, evitar o sofrimento animal.
Qualquer pai ou mãe se questionaria aqui: essa é realmente uma dieta apropriada para quem está em pleno desenvolvimento?
A Sociedade Brasileira de Pediatria criou um guia prático sobre vegetarianismo na infância e na adolescência em que alerta para o risco de deficiências nutricionais, já que os pequenos acabam se limitando a consumir um grupo menor de alimentos. Mas, com o devido acompanhamento de um profissional e a supervisão dos pais, não há perigo em crescer longe de produtos de origem animal.
Deve-se ficar atento sobretudo às deficiências nutricionais. Os casos são individuais e dependem das restrições, que podem excluir carnes, ovos e laticínios ou parte deles. Também é preciso avaliar a dieta da criança ou adolescente como um todo, se contém leguminosas, frutas e grãos.
A nutricionista do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas de São Paulo, Bianca Manzoli, ainda alerta para outro aspecto: transtorno alimentar.
— A baixa aceitação da carne pode acontecer nos pequenos pelo que chamamos de recusa alimentar, um tipo de distúrbio. Nesses casos as crianças comem os mesmos alimentos, e a escolha pode envolver textura, cor, cheiro ou sabor. Essas questões podem acontecer por volta dos dois anos, podendo ir até o sexto. Muitas delas recusam a carne, especialmente vermelha, porque é mais fibrosa e demanda mais mastigação.
Para manter a saúde, afirma a especialista, é preciso driblar a monotonia alimentar, sobretudo nessa fase.
— A criança precisa de todos os nutrientes e de uma alimentação mais variada possível. O vegetariano às vezes cai no erro de comer muito carboidrato, gordura e açúcar. Não é só tirar, tem que reintroduzir — explica Manzoli. — Quando recebe uma criança vegetariana, quer a opção venha dela ou da família, cabe ao profissional respeitar a escolha e orientar para que ela se desenvolva bem. Assim, não há prejuízo nenhum.
Falta de nutrientes
Segundo a pediatra Aline Magnino, do Grupo ProntoBaby, a falta de alimentos de origem animal e de laticínios, no caso dos veganos, pode deflagrar deficiência de ferro, vitamina B12, cálcio e zinco, bastante presentes na carne, frango e peixe.
Alimentos ovo-lacto-vegetarianos contêm vitamina B12 em quantidades suficientes para suprir a dose diária recomendada, como certos tipos de queijos, ovos e leites. Esse é o único nutriente que um vegetariano pode precisar suplementar mesmo com uma dieta bem planejada. Os vegetais escuros (como brócolis e couve), frutas secas (como damasco e uva passa), castanhas e sementes (como nozes e sementes de girassol), leguminosas (como feijão e soja) e o alho podem ser boas fonte de cálcio. Cereais, alimentos integrais e oleaginosas são boas fontes de zinco, e os vegetais verdes escuros, cereais, leguminosas, oleaginosas e sementes possuem ótimo teor de ferro.
As substituições, no entanto, devem ser sempre orientadas por um nutricionista, nutrólogo ou pediatra porque muitas vezes os compostos presentes nesses alimentos podem ser absorvidos de formas diferentes pelo organismo.
A suplementação com vitaminas é indicada apenas quando há deficiência nutricional. Assim como não há necessidade de fazer exames o tempo todo. Mas os pais devem observar sinais como falta de apetite, cansaço excessivo, problemas de memória, infecções e mau desempenho na escola.
No caso de jovens veganos, mais uma vez, o cuidado deve ser redobrado, já que as restrições são maiores é o suplemento deve ser diferente do convencional.
Fonte:https://oglobo.globo.com/saude/coronavirus/covid-19-entenda-por-que-obesidade-um-fator-de-risco-para-agravamento-morte-1-24644437
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